Vira e mexe a gente descobre
alguma coisa, e descobre as pessoas também.
Uma mentira que alguém
contou e disfarçou muito bem de verdade pode até demorar algum tempo pra ser descoberta,
mas uma hora acontece. Mentira tem que ser muito bem elaborada pra não cair por
terra logo de cara. E depois, o sujeito tem que ser muito profissional pra
sustentar o fingimento, sem deixar transparecer qualquer pista. Mas até mesmo o
mais malandro uma hora se enrola na própria conversa. É que inventar uma vez é
muito fácil, agora, alimentar uma história com um monte de novas outras acaba
originando um livro em que os pontos não se encaixam. Pra escrever livro, tem
que ter muita criatividade e também muita paciência. No início está tudo bem,
tudo certo. Aí a história vai pegando o meio e começa a se enrolar. Tem que
voltar atrás, tem que corrigir o que não está batendo, tem que riscar daqui,
emendar dali e fazer tudo isso mais milhares de vezes, até que cada frase
esteja amarrada a um fato que ainda vai acontecer, e cada acontecimento
encontre justificativa em alguma parte da narrativa. E é por isso que mentira é
tão frágil, porque não se sustenta nos fatos.
Cada pessoa tem um perfil,
físico e psicológico. Alguns a gente reconhece no primeiro momento, outros
demoram um pouco mais pra se revelar. Mas uma hora todo mundo se mostra do
jeito que é. Inclusive sem querer. Uma hora a pessoa não se controla, e em
algum momento ela deixa escapar ao menos um vestígio verdadeiro da sua personalidade.
Ninguém finge o tempo inteiro, porque instinto humano é uma coisa que faz a
gente reagir por impulso diante dos estímulos. E impulso não é pensado nem repensado.
Aí, quem tinha alguma coisa a esconder, acaba se entregando.
Gente falsa tem em todo
lugar. Na escola, no trabalho, na academia, nas festas e na igreja. E também
não é exclusividade de nenhuma classe social. Mascaradas ou descaradas, pulam
de galho em galho. Trocam de amigos e de emprego como se fosse de roupa. Têm
uma facilidade descomunal para mudar. Mudam de casa, de cidade, de cabelo, de
namorado e de discurso. Mudam conforme suas conveniências momentâneas e não
desgrudam do alvo da vez. E depois que já sugaram tudo, não hesitam em gritar
aos quatro cantos do mundo todos os defeitos que agora insistem em colocar na
pessoa.
É claro que tudo isso tem
exceção, porque quando se trata de ser humano, generalizar é mesmo burrice. Mas
com certeza, ao ler estas linhas, você deve ter se lembrado de pelo menos uma
pessoa que já passou pelo seu caminho.
Quando a gente não se deixa
levar pela euforia que envolve as relações dessas pessoas,quando a gente se policia
e enxerga por detrás do “oba-oba” que lhes é típico, não somos atingidos pela
sua falta de honestidade e de hombridade. No máximo, perdemos um falso amigo e
um poço de desventuras que ia ser despejado em cima de nós, porque no final das
contas, desse tipo de gente a gente só precisa de uma coisa: distância.
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