Todos nós já vivemos alguma
situação em que queríamos poder apertar o botão “pular”, e passar para a
próxima fase. Os problemas adquirem as mais variadas formas: pode ser uma
separação, a morte de alguém querido, uma doença, ou nada tão grave assim, mas
que acaba machucando a gente. O fato de ser banal ou de ter uma escolha óbvia
para os outros, não quer dizer que seja igual pra você, porque cada um foi
criado de uma forma, tem traços de personalidade diferentes, cultivou alegrias
e traumas diferentes e, juntando tudo, tornou-se quem é. Por isso, não dá pra
julgar as pessoas num contexto genérico. Eu sei que a gente julga, eu sei que,
de vez em quando (ou de vez em sempre), a gente se pega criticando o modo de
agir de um parente, de um amigo ou de um vizinho. E quando para pra pensar, se
dá conta de que dar palpite na vida dos outros é muito fácil, difícil é
administrar a própria vida.
Quem nunca chamou a
personagem da novela de trouxa e disse que no seu lugar já teria deixado o
marido ou expulsado o filho de casa há muito tempo?E quem é que nunca falou com
todas as letras que ja-mais perdoaria a amiga que teve um caso com o seu ex?E
mais: quem não abriu a boca pra dizer que nunca aceitaria como mãe a mulher que
esconde, com vergonha, o seu passado?Acontece que falar é uma coisa e fazer,
considerando toda uma história de vida é outra bem diferente. Estar envolvido
na situação é como mergulhar, faz a gente enxergar um outro mundo,que não pode
ser visto pelo lado de fora. Não deve ser fácil jogar no mundo um ser formado
em seu próprio ventre, a quem você, por longos nove meses (e inúmeros depois),
dedicou tanto amor e carinho. Não deve ser fácil acabar com o sonho imaginado
por toda uma vida e um dia, enfim, concretizado diante do altar. Não tem número
que expresse o monte de possibilidades que passam pela cabeça de uma pessoa que
precisa tomar uma decisão importante para ela. E não tem uma tecla no coração
pra apertar e acabar com o amor.
A gente tenta resolver os
problemas do jeito que acha certo e digno e, às vezes, até conseguimos nos
transformar em uma espécie de robôs, indiferentes a tudo. Mas, uma hora a
bateria vai acabando e a gente não pode se culpar por nem sempre conseguir estar
por cima da carne seca. Ser humano é ter sentimento, que a gente não escolhe,
feliz ou infelizmente. Ser humano é ser limitado. E é mais justo com você
respeitar o seu limite, até estar confiante para dar um passo a mais.
Se a mãe não abandonou o
filho, se a esposa perdoou o marido ou se a ex-amiga é amiga de novo, é
exclusivamente da conta deles. É claro que cada um tem a sua opinião, mas é
melhor guardá-la para uso próprio. Se o outro está feliz com a opção que ele
fez, se não está se prejudicando, cada um que fique na sua. O que mais tem é gente
achando que a vida dos outros é uma espécie de “Você decide”(aquele
programa em que o telespectador decidia o fim do capítulo), e quando chega a
sua vez de protagonizar a trama, escolhe um final igual ou pior. Só quem vive
um conflito sabe cada detalhe da história, desde o início, e sabe dizer exatamente
cada motivo que possui para falar sim ou não. Cada um que considere ou
desconsidere suas razões e seus sentimentos. Afinal, como todo mundo que já leu
uma frase em vidro traseiro de carro sabe: “Deus deu a vida pra cada um cuidar
da sua”.