Sei
que as coisas terminaram meio estranhas entre nós dois. Nós, que durante o
nosso tempo sempre fomos tão íntimos, agora assim, como dois desconhecidos. Não
existe nada que machuque mais o meu coração neste momento.
Eu
não sei dizer exatamente onde erramos. Nem sei se é possível racionalizar as
coisas a esse ponto. É um misto de “posso descrever todos os nossos erros” com subsequentes
“tá tudo bagunçado, não tem como explicar nada!”. Talvez sentimentos não sejam
mesmo pra serem explicados. Talvez o nosso excesso de razão tenha nos impedido
de mergulhar nos sentimentos e nos entregar por inteiro.
Preciso
te dizer que eu resolvi me permitir. Não tento mais entender o que se passa
dentro de mim. A dor que está doendo agora eu não me atrevo a colocar em
palavras, ainda que fossem pra ficar só em pensamento. Estou deixando as coisas
se ajeitarem sozinhas. Não tenho mais a ilusão de poder controlá- las.
Acho
que sempre soubemos que uma hora esse momento ia chegar. Mas nós construímos
algo tão bom juntos. A nossa amizade e o nosso companheirismo nos unia de forma
tão bonita. Depois de qualquer dia difícil, sabíamos que estaríamos ali um para
o outro. Mas a rotina cansa, os defeitos se agigantam e aí é hora de ir pro
tudo ou nada.
Passamos
muito tempo criando expectativas sobre nós mesmos, imaginando aquilo que podia
vir a ser. Vivemos nosso conto de fadas sozinhos, esperando que um dia alguém
pudesse completá- lo. Descobrimos que a realidade é diferente e traz, junto com
o encanto, o gosto amargo que conto de fadas nenhum deixa você saber que
existe.
Meu
querido, o seu lugar ainda tá aqui, reservado no meu peito, e talvez pra sempre
vá estar. Me lembro do primeiro dia como se fosse ontem, e lamento
profundamente que tudo tenha acabado assim. Mas você é importante demais pra
continuar onde já não há nada a te acrescentar, e eu também.
Sei
que tudo vai ficar bem, e que vamos fazer o melhor que pudermos com as nossas
vidas. Quero que saiba que o tamanho de felicidade que eu desejo pra mim, eu
desejo pra você também. E, apesar da minha habilidade de comunicação, talvez,
ironicamente, eu não tenha conseguido me comunicar tão bem com você pra dizer
que, do meu modo, eu te amei como nunca havia tido a oportunidade de amar. Não
acho justo dizer que não fomos bons o suficiente, ou que não soubemos caminhar.
Fizemos o melhor que podíamos. Mas precisávamos seguir sozinhos pra encontrar o
melhor que pudermos ser.
http://obviousmag.org/jessica_vieira/2016/sobre-quem-nao-ficou.html