segunda-feira, 16 de julho de 2012

O que resta em nós



Chega uma hora em que a gente percebe que precisa mudar. Que já deu, que já é tempo de enfrentar os fantasmas que arrastamos conosco pela vida.

O medo é companheiro de todas as pessoas e não existe ninguém que possa dizer que não tem nenhum medo. Medo de barata, medo de escuro, medo de ficar sozinho, medo de doença ou medo da morte. Dos mais simples aos mais sérios, seja qual for, e por mais bobo que pareça, todo mundo tem um ponto fraco. Até quem é, aparentemente, forte e indestrutível 24 horas por dia, incapaz de derramar uma lágrima na frente de alguém, tem seus momentos de temor. E, por incrível que pareça, seus medos costumam ser irrisórios para as outras pessoas. É que ser humano parece mesmo ter sido feito pra viver nas linhas da contradição, e uma coisa tem que compensar a outra, para que estejamos todos no mesmo patamar.

A certa altura da vida, vemos que precisamos deixar pra trás o que já não cabe em nós, mesmo que doa. Mesmo que doa muito. O tempo vai nos levando, sem que às vezes a gente se dê conta, e chega um momento em que é necessário fazer uma pausa pra respirar.Não apenas inspirar e expirar, mecanicamente,mas no sentido poético da palavra: olhar ao redor e descobrir para onde fomos carregados pelas intempéries da vida, e aceitar que a realidade mudou e que nós também não podemos permanecer os mesmos.

Tem hora que a gente olha e não vê. Outra hora, a gente olha e vê o que não queria. Entra em pânico, acha que não vai dar conta do recado. Quer se esconder debaixo do cobertor que parecia nos proteger tanto quando éramos crianças, mas não dá. Eu e você sabemos que não dá. A gente sabe que tem que crescer, por mais que se queira fazer companhia ao Peter Pan na Terra do Nunca. Um coração jovem e cheio de sonhos pode e deve ser companheiro para toda a vida, mas um coração que permanece menino para não ter que chorar as dores da vida adulta é humanamente impossível se manter no peito.

Mas, enfim, tudo bem. Todo sofrimento traz um aprendizado e enche de força o que era tão frágil. Se a dor tem um lado positivo, ele vem da experiência e da resistência que ela nos permite alcançar. Resta-nos ser embalados pelas ondas da vida, maravilhados pela beleza que inebria nossos sentidos até que, vez ou outra, uma tempestade venha tomar conta de nossos dias. E nos superamos, nos surpreendemos, damos respostas que nos imaginávamos incapazes.

Encarando os medos que nos assolam e reduzem tantos que se imaginam mais do que isso a meros mortais, é que nos descobrimos e nos orgulhamos da nossa história, tantas vezes ignorada ou diminuída pelos olhares externos, mas cuja beleza se revela dentro de nós, construída, com muita superação, em cada passo dado para derrotar nossas limitações.

Nenhum comentário: