terça-feira, 26 de novembro de 2019

Crônicas de uma jovem exausta - Sobrevivente


Foi mais um dia exaustivo. Depois de um pesadelo, acordei com o coração apertado, mas com a certeza de que Deus está me protegendo. Não consegui ir à academia. A primeira missão da segunda-feira falhou com sucesso. Fui pro trabalho. O ambiente tem estado tenso. O cansaço mental toma conta de mim. Problemas sem fim.

Não fui ao grupo de oração. Mais uma tarefa do dia negligenciada e não sinto orgulho disso. Cheguei em casa e fui assistir a uma série de suspense que estava prendendo a minha atenção como há muito tempo nenhuma fazia. Coloquei pra assar os meus pães de queijo que estavam perdidos no congelador e, que descobri, vencidos há uma semana. Cheguei ao episódio 8 e descobri que a série havia acabado porque não apareceu o botão para assistir ao próximo episódio. Confesso que esperava mais. Criei expectativas sobre o final. Imaginei que haveria uma reviravolta surpreendente, algo totalmente inimaginável que mudaria todo o rumo dos fatos. Mas foi um final bem comum e totalmente verossímil. Aliás, depois de pensar bem, percebi que eu esperava por um desfecho injusto e ruim, mas ele foi bom, como a realidade deveria ser. Será que me acostumei a esperar pelo pior? Ou será que eu só esperava outro final devido ao gênero e ao nome da produção? O que quer que seja, me fez refletir e também me fez bem, porque a justiça prevaleceu.

Peguei um livro, verifiquei algumas questões de trabalho, coloquei uma música e me lembrei que me fiz promessas. Promessas de fazer mais por mim. E aqui estou, depois de bastante tempo, colocando algumas ideias em umas poucas linhas. Tenho tentando entender porque ando tão exausta ultimamente. Meu cansaço não é físico. É a cabeça que não descansa. Tento desvendar fórmulas, criar teorias, não ser condescendente, mas também não julgar demais. E, pensando bem, sei que as coisas têm a importância que cada um dá, mas será mesmo que, em meu lugar, era esperada outra postura? Eu não sei. De qualquer forma, essa é a minha e eu também tenho o direito de sentir.

Alguns dias são muito difíceis. Ontem foi um deles, e hoje também. Nas últimas semanas, quase todos têm sido e estou superando como posso. Ou, ao menos, sobrevivendo. Tenho a intuição de que só vou conseguir entender tudo o que está acontecendo depois que eu sair do furacão e puder olhar de longe. Ser telespectadora da minha história que passou. Por ora, não consigo ter certeza de nada. Conseguir cumprir os afazeres do dia a dia e manter o meu trabalho já tem sido muito.

Agora é hora da despedida por hoje. Não foi o meu melhor texto, muito menos o meu melhor dia. Mas foi o melhor que pude fazer por mim no momento. Vou guardar o que restou e acreditar que amanhã será melhor. Se não for, depois de amanhã eu tento de novo. Não é nada que eu já não tenha feito tantas vezes que nem dá mais pra contabilizar. E, até aqui, eu sobrevivi.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018





Ando meio cheia de sentimentos que não tenho conseguido explicar. Faz tanto tempo que não deixo as palavras transbordarem, que elas têm me afogado no mar revolto que vive dentro de mim. Há tanta coisa pra ser dita, que sequer sei por onde começar. Ando meio engasgada com tudo, sem nem saber direito o porquê.
Muita coisa mudou nos últimos anos. As pessoas mudaram, e me ensinaram que quase todas um dia vão te deixar. Os tempos mudaram, e me mostraram que a vida dá mesmo voltas, e que se a gente não souber se adaptar, fica paralisada no meio do caminho sem conseguir juntar os pedaços e se reconstruir. Os valores mudaram, e aprendi que o que quer que você faça, faça por você e com amor, pois nem a vida e nem ninguém não vão te recompensar por isso.
No fim das contas, é só você e você mesma. Com a sua consciência, suas dores, seus arrependimentos e aquilo de que se orgulha.
A gente vai se espremendo tanto pra caber nos moldes do mundo, que uma hora a caixa arrebenta e a gente tem que sair, de um jeito ou de outro. E é aí que temos que encarar o desafio de seguir em frente, mesmo que pareça que a gente não vai aguentar. A gente precisa e a gente vai. É só continuar andando... Uma hora as coisas chegam no seu devido lugar.
Eu vou lutando as minhas batalhas e entendendo melhor as pessoas, sobretudo aquelas a quem nunca entendi. Sempre achei que não era justo julgar os sentimentos alheios. Hoje eu também não julgo as atitudes. Sei que cada um fez o que conseguiu fazer no meio do seu caos particular. E vale quase tudo. Só não vale sair por aí ferindo os outros. Coração é terra sagrada. Não basta que cada um cuide do seu, é preciso não bagunçar o dos outros se não tiver a intenção de ficar pra ajudar a arrumar.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Sobre quem não ficou



Sei que as coisas terminaram meio estranhas entre nós dois. Nós, que durante o nosso tempo sempre fomos tão íntimos, agora assim, como dois desconhecidos. Não existe nada que machuque mais o meu coração neste momento.

Eu não sei dizer exatamente onde erramos. Nem sei se é possível racionalizar as coisas a esse ponto. É um misto de “posso descrever todos os nossos erros” com subsequentes “tá tudo bagunçado, não tem como explicar nada!”. Talvez sentimentos não sejam mesmo pra serem explicados. Talvez o nosso excesso de razão tenha nos impedido de mergulhar nos sentimentos e nos entregar por inteiro.

Preciso te dizer que eu resolvi me permitir. Não tento mais entender o que se passa dentro de mim. A dor que está doendo agora eu não me atrevo a colocar em palavras, ainda que fossem pra ficar só em pensamento. Estou deixando as coisas se ajeitarem sozinhas. Não tenho mais a ilusão de poder controlá- las.

Acho que sempre soubemos que uma hora esse momento ia chegar. Mas nós construímos algo tão bom juntos. A nossa amizade e o nosso companheirismo nos unia de forma tão bonita. Depois de qualquer dia difícil, sabíamos que estaríamos ali um para o outro. Mas a rotina cansa, os defeitos se agigantam e aí é hora de ir pro tudo ou nada.

Passamos muito tempo criando expectativas sobre nós mesmos, imaginando aquilo que podia vir a ser. Vivemos nosso conto de fadas sozinhos, esperando que um dia alguém pudesse completá- lo. Descobrimos que a realidade é diferente e traz, junto com o encanto, o gosto amargo que conto de fadas nenhum deixa você saber que existe.

Meu querido, o seu lugar ainda tá aqui, reservado no meu peito, e talvez pra sempre vá estar. Me lembro do primeiro dia como se fosse ontem, e lamento profundamente que tudo tenha acabado assim. Mas você é importante demais pra continuar onde já não há nada a te acrescentar, e eu também.


Sei que tudo vai ficar bem, e que vamos fazer o melhor que pudermos com as nossas vidas. Quero que saiba que o tamanho de felicidade que eu desejo pra mim, eu desejo pra você também. E, apesar da minha habilidade de comunicação, talvez, ironicamente, eu não tenha conseguido me comunicar tão bem com você pra dizer que, do meu modo, eu te amei como nunca havia tido a oportunidade de amar. Não acho justo dizer que não fomos bons o suficiente, ou que não soubemos caminhar. Fizemos o melhor que podíamos. Mas precisávamos seguir sozinhos pra encontrar o melhor que pudermos ser. 

http://obviousmag.org/jessica_vieira/2016/sobre-quem-nao-ficou.html

segunda-feira, 27 de junho de 2016

A vida depois dos 20


“Depois que faz 15 anos passa voando.” ”Depois dos 18 a vida não muda. Só piora.” Duas frases clichês que todo adulto já falou alguma vez na vida. Como adulto eu quis dizer pessoas que já alcançaram a maioridade civil, mas talvez as duas coisas não sejam mais sinônimas. De uns tempos pra cá, a adolescência não se define mais pela idade cronológica.
Depois dos 20, você percebe que nem metade dos planos que você fez quando tinha 15 se realizaram. E depois dos 25, você percebe que nem metade dos planos que você fez quando tinha 20 se realizaram. Você até tenta manter a calma, mas tem hora que o desespero bate e não tem nada que tire de você aquela angústia que, como dementadores (#harrypotterfeeelings) vai sugando a sua alegria de viver. Aí você decide se entupir de doce enquanto assiste a um filme e tudo volta a ficar bem (a forma de extravasar varia bastante. Alguns também choram e uns resolvem encher a cara. Outros fazem tudo isso junto). Até bater a próxima crise existencial.
Aos 15, queremos ter 20. Aos 20, nos sentimos com 15. Aos 25, nos sentimos vivendo tardiamente o lado negro dos 15. Você queria tanta coisa e, aos 25, ainda nem saiu da casa dos pais (e não existe previsão); não faz ideia se algum dia vai conseguir a independência financeira; não tem certeza se quer ter filhos; não viajou nem 5% do Brasil (e o plano era viajar o mundo); ainda ama cama elástica, docinho de festa e pirulito; não entende como as pessoas tomam decisões importantes na vida, muito menos como pessoas da sua idade estão e casando e tendo filhos; e tem vontade de responder ‘sei lá’ para toda pergunta que te fazem no âmbito profissional.
Caindo num abismo e se quebrando toda com um paraquedas fechado nas costas é como a gente se sente. Tomo a liberdade de falar por nós, já que agora eu sei que não é só comigo. Não sou a única a sentir coisas tão estranhas que sequer consigo descrever. Sentimos que reuníamos todas as condições favoráveis para ter uma vida adulta bem sucedida, mas, de repente, sem que a gente consiga explicar causa, motivo, razão ou circunstância (RIP professor Girafales), tudo desandou. Estudamos em boas escolas, fizemos aulas de inglês, passamos em vestibulares concorridos, fomos alunos exemplares na faculdade, mas parece que aqui fora as coisas são diferentes. Nunca nos prepararam verdadeiramente para sair da bolha de proteção e encarar o mundo real, e agora vivemos o choque cultural. Já viram aquela brincadeira ‘cabra-cega’? Assim estamos nós: de olhos vendados na vida, tentando encontrar o melhor caminho. Tem também a ‘pinhata mexicana’. Somos nós, de olhos vendados, tentando bater nos problemas.
Se, apesar de sermos exímios resolvedores de provas acadêmicas, não estamos preparados para as provas da vida, como conseguiremos sair dessa fase tão complicada e difícil (e não raramente dolorosa) que é a transição da adolescência estendida para a verdadeira idade adulta? Creio que aqui se aplica bem a teoria da seleção natural (como bons alunos que fomos, isso tiramos de letra): sobrevive quem se adapta melhor ao meio. Ainda me impressionam esses homens criadores de teorias atemporais.
E depois de tantas constatações um tanto quanto negativas, resta dizer, sinceramente, que um dia, num instante qualquer, perceberemos que já não sofremos pelos mesmos problemas e que, de alguma forma, que talvez saibamos racionalizar, talvez não, conseguimos encontrar o nosso próprio jeito de viver e de resolver as nossas questões. Acredito que a maturidade chega sem que a gente se dê conta, e que não é algo que possamos escolher. É claro que isso não retira a nossa responsabilidade de ação, mas acho que é necessário que a gente aprenda a ter calma, entendendo que em algum momento as coisas vão se resolver. Eu sei que é difícil que este momento não seja agora, mas, se eu sei alguma coisa sobre a vida, é que paciência é uma das lições que ela pretende nos ensinar. ‘O que não tem remédio, remediado está.’




terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Mude seu mundo


Quanto tempo demora pra gente entender o que a vida quer de nós? Há momentos em que vagamos sem rumo, jogando-nos de cabeça no desconhecido, procurando alternativas. Mas, às vezes, por mais que a gente tente, as respostas de que precisamos simplesmente não vêm. E aí, por mais que se tenha tentado adiar, é inevitável deparar-se consigo em alguma parte do caminho. Nessa hora, o melhor é encarar. Porque se você fugir, acredite: não vai ser pra sempre.

É difícil enfrentar a si mesmo. Não é fácil olhar pra dentro e fazer um estudo aprofundado de como você tem conduzido a sua vida nos últimos anos (ou desde sempre), e constatar o que é que está distanciando a vida que você leva da vida que você quer ter. Muitas vezes, você vai passar horas ou dias, em alguns casos até meses ou anos, e não vai achar nenhuma solução. A pergunta que fica é: por quê? Não existe uma resposta padrão. Pode ser porque se está considerando os aspectos errados, porque não se está conseguindo realmente conectar com o seu interior ou, ainda, a pergunta a ser feita pode não ser 'por quê?', e, sim, 'o quê?'. O que devo fazer para melhorar as coisas? Em certas circunstâncias, achar uma saída é mais importante que achar um motivo.

Separar um tempo para refletir é necessário. Na correria do dia a dia, fazemos tudo o que nos ensinaram a fazer. Crescemos programados pra seguir um padrão e assim fazemos. Até que chega o dia em que os nossos questionamentos começam a se chocar com o padrão. E não dá pra ignorar. Você pode tentar, mas provavelmente não vai conseguir fazer isso por muito tempo. Não dá pra apenas seguir o fluxo sem um propósito, sem algo que justifique o caminho que você está traçando. Você percebe que precisa ir além. Precisa ligar os pontos da reta padrão aos pontos da curva da sua vida. O problema é que nem sempre nós conseguimos entender o desenho que esses pontos formam quando interligados. Então, repassamos toda a nossa existência, tentamos descobrir onde está o erro. Sabemos que estamos deixando passar algum detalhe. O detalhe que é a chave para abrir a porta que tanto buscamos. Mas ele se camufla em meio a tantas lembranças, informações e anseios. Nós buscamos de novo, pensamos em dar 'ctrl f' em toda a nossa história, mas não há como encontrar algo quando você não sabe o que está procurando.

Estamos incessantemente atrás de uma chave, mas não nos damos conta de que, talvez, a resposta não seja uma chave milagrosa que vai resolver todos os seus problemas. Isso envolve mais que um simples detalhe. Uma vida construída para seguir o caminho 'x' não vai mudar para o 'y' de um dia para o outro. Se não sabe pra onde ir, ou por onde iniciar a sua mudança, comece escutando o seu coração ou apenas mudando pequenos hábitos. A resposta está nas pequenas coisas. É preciso ter coragem, paciência e sabedoria. As mudanças duradouras se dão aos poucos. Tão sutilmente, que você só verdadeiramente nota quando elas estão solidificadas. Só aí percebemos a grandiosidade das mínimas mudanças diárias.

O ponto principal da questão aqui levantada é descobrir os comportamentos que precisam ser alterados. Sem perceber, mesmo ávidos pela mudança, continuamos agindo exatamente da mesma forma que nos levou aonde estamos insatisfeitos. Para algumas pessoas, uma chance é o suficiente para conquistar exatamente o que desejaram. Mas, se não for o seu caso, não se culpe. Há muito mais fatores envolvidos nesse êxito do que podemos imaginar. A forma como fomos criados, moldados, condicionados, a nossa personalidade, o meio em que crescemos e muitos outros elementos contribuem para que façamos as nossas escolhas de vida. Se você foi ensinado a temer, provavelmente suas escolhas não serão genuínas e terão mais chances de não te trazer felicidade plena. Mas, se você aprendeu que pode conseguir qualquer coisa pela qual persista, há uma chance muito grande de ter coragem para lutar pelos seus reais sonhos, e não por aquilo que esperam de você.

Não importa onde você está hoje. Se você sente que está no caminho certo para alcançar aquilo que você deseja, ótimo. Agora, se parece que durante toda a sua vida o que você fez foi seguir uma massa robotizada, fazendo testes atrás de testes, pulando de etapa em etapa, conseguindo excelentes resultados em tudo o que te diziam que era bom pra você, e hoje sente que esse não é o seu caminho, recomece. Recomeçar é uma palavra bonita, fácil de se falar e que nos traz esperança. É, ao mesmo tempo, difícil de ser colocada em prática, mas quando a angústia alcança grandes proporções, algo te impulsiona a mudar. A dor também é importante, porque sem ela a zona de conforto nos mantém inertes.

Se a vida é uma só, e o fim é o mesmo pra todos, recomeçar quantas vezes for necessário deve ser visto como oportunidade. Não nascemos perfeitos, não nascemos sabendo, então, que maravilha é poder, na mesma vida, corrigir o que não deu certo, reinventar-se até sentir a sua alma em paz. A paz que só sente quem ‘está no lugar certo, fazendo o que deveria’ ¹. Ouse, descubra-se, permita-se, recomece quantas vezes for preciso e desfrute todas as experiências. Não tenha medo de arriscar e, se tiver, arrisque assim mesmo. A vida é simples. Para viver bem, basta que saibamos ser simples também.


 “Se as coisas não mudaram até agora, então deixe as coisas como estão e mude você. (Martha Medeiros)”.


¹ Pe. Fábio de Melo.

 http://obviousmag.org/jessica_vieira/2015/mude-seu-mundo.html













domingo, 11 de outubro de 2015

Medo de mim



Hoje eu não queria nada além de me sentir em paz. Aquela paz que a gente sente quando as coisas estão no lugar e quando sabemos que tudo está exatamente como deveria estar. A paz que a gente sente quando sabe que está no lugar certo, na hora certa, com as pessoas certas. A paz que toma conta de você quando, após um dia de muito trabalho, você ainda está feliz e agradecida por cada coisa na sua vida ser exatamente como é. E por tudo estar caminhando, não exatamente como você planejou, mas mesmo com as coisas saindo do lugar, você se sente totalmente bem.

Já faz algum tempo desde que experimentei essas sensações. Tenho saudade dessa época. Agora tudo está fora de lugar, e há uns bons meses (mais de doze) que não consigo ter um plano decente pra minha vida. A sensação de que ando fazendo burrada atrás de burrada dorme e acorda comigo todos os dias, e não me deixa descansar. Por mais que eu tente me esforçar pra colocar as coisas no lugar, elas, simplesmente, não chegam aonde deviam chegar, e estão me deixando esgotada.


Eu já não tenho controle algum sobre tudo o que acontece em minha vida. Como uma nuvem que passa, sinto o tempo passar e as possibilidades se esvaírem. Sei que muita gente vai pensar que é exagero, e que sempre há uma saída, em qualquer idade. E que eu sou nova, e tenho toda uma vida pela frente. Mas, me desculpem. Não é isso o que eu sinto e, se eu não sei viver, acho que ao menos tenho o direito de sentir algo sobre a minha própria vida.


Neste momento, estou aliviada por conseguir escrever. Faz tempo que minhas emoções não se traduzem mais em palavras. Por mais que eu tenha tentado,  e que só a ideia de escrever já me traga conforto, não tem saído nada além de meia dúzia de palavras boas ou quatro parágrafos de ideias ruins. Escrever é a minha terapia e a minha salvação. Cada vez que tiro de dentro do meu coração essa confusão de sentimentos que eu sou, sinto minha alma ficar mais leve. Deixo um pouco da bagagem para trás, pra que eu possa conseguir seguir em frente.


É estranho pensar que há poucos anos atrás eu era tão jovem e hoje sou a única responsável pela minha própria vida e pelos caminhos que vou traçar daqui em diante. Dá um frio na barriga perceber que, se tudo der errado, não tem ninguém que eu possa culpar pra me sentir melhor. Não me sinto preparada pra ser adulta. Não sei se algum dia vou conseguir não me desesperar diante dos meus problemas; não sei se vou parar de achar que tenho todas as doenças do mundo, tão bem diagnosticadas pelo google; não sei se vou conseguir construir uma carreira; ter uma vida estável e alguma segurança; não tenho a menor ideia se vou conseguir construir minha própria família e, conseguindo, se não vou arruinar a vida do meu filho.  Será que as pessoas têm esses medos também? Não sei se algum dia vou conseguir confiar em mim e fazer as escolhas que eu realmente quero.


É ruim viver com esse sentimento constante de insegurança e insatisfação. Pra todo lado que você olha, não vê uma saída que resolva os problemas. Esperar? Mais? Até quando? Se me derem um prazo, juro que sossego o facho. Mas, enquanto tudo for incerteza, sei que vou continuar essa mistura de ansiedade e frustração. Quando foi que eu parei de ser verdadeira comigo mesma? Em que momento eu comecei a achar que fazer escolhas seguras e previsíveis me trariam algum conforto? Onde eu estava com a cabeça quando achei que agradando aos outros eu fazia a coisa certa? Tenho medo, muito medo de não ser feliz, porque sei que a minha felicidade só depende de mim. 

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

O início






Naquela tarde, Marcos me deixou em frente ao prédio, como de costume. Me deu um beijo de despedida e disse ‘fica com Deus’. Nada fora do normal, mas eu comecei a sentir que alguma coisa estava começando a ficar errada.

Desci do carro, atravessei a rua e acenei pra ele antes de me virar e abrir o portão. Quando fechei o portão, e novamente fiquei de frente para onde Marcos estava parado, restava a vaga vazia. Ele arrancou muito mais rápido do que normalmente fazia. Sempre cuidadoso, não ia embora antes que eu entrasse no hall e, naquele momento, tive certeza de que havia algo estranho. Eu ainda não fazia ideia do que era, mas sabia que ia descobrir.

Subi e encontrei o apartamento exatamente como deixei. Cada vez que eu via tudo no lugar, me subia um alívio instantâneo. Desde que entraram na casa da vizinha e levaram até a geladeira, eu não me sentia mais tão segura como antes. Coloquei grades nas janelas e até na porta, chave tetra, câmera e alarme. Custou uma grana, mas fez com que eu me sentisse mais protegida.

Coloquei a bolsa na mesa e me joguei no sofá. Estava cansada e cheia de planos para o novo projeto da produtora. Agora que eu estava coordenando a cobertura dos eventos internacionais, tudo tinha que sair perfeito. Eu precisava mostrar que dava pra fazer algo inovador sem romper com a identidade da empresa. Tomei um banho, comi um sanduíche e voltei a pensar no Marcos. O que será que estava acontecendo? Mandei um whatsapp perguntando se ele havia chegado. Como não obtive resposta imediata, fui rabiscar umas coisas para o projeto.

Cerca de meia hora depois, agora muito compenetrada nas ideias que estava tendo, ouvi o celular apitar. ‘Cheguei’. Era o que constava no texto. Só um simples, curto e formal ‘ cheguei’. ‘Está tudo bem?’, perguntei. ‘Sim’, ele respondeu. E foi aí que eu resolvi ligar. Perguntei se estava acontecendo alguma coisa, o porquê de ele estar agindo de forma estranha nas últimas horas e, mesmo depois de muita insistência, a única justificativa que recebi foi ‘o cansaço’. Achei melhor tentar outro dia. Quem sabe ia passar ou, quem sabe ele resolvia falar. Ok. Tempo ao tempo. Nunca foi muito a minha praia, mas a vida vinha me ensinando que era inevitável.

Voltei ao trabalho, escrevi mais meia dúzia de linhas e achei melhor encerrar. Já eram oito da noite e eu queria fazer algo pra descansar. No outro dia ainda era quarta e eu precisava acordar cedo. Fui pra TV e mudei de canal até achar um filme que parecesse interessante. Se era, eu não sei. Acordei às duas da manhã e me dei conta de que tinha pegado no sono, e de que precisava voltar a dormir. Foi o que fiz.

Às oito eu já estava no escritório. Cheguei animada, contando as novidades pra Camila, Alice e Raquel, que eram a minha nova equipe. Dez minutos depois Flávia me chamou na sua sala e contei minhas ideias sobre o projeto. Ela pareceu (realmente) aprovar, e disse que se precisasse de algum auxílio era só falar. Pus a mão na maçaneta para sair quando, ouvindo um ‘ah’, em tom de quem havia esquecido de dizer alguma coisa, virei-me novamente para ela: ‘Estranhei não ter visto você com o Marcos ontem à noite no Bar da Costa, teve música ao vivo.’ Fiquei muito surpresa, e não sei que cara eu fiz. Eu e Marcos avisávamos sempre que um de nós ia a algum lugar sem o outro. ‘Ontem eu estava muito cansada, preferi ficar em casa.’ Nunca tive intimidade com a Flávia, foi a melhor coisa em que consegui pensar na hora.

Era oficial. Mais um problema na minha enorme lista de ‘coisas nada fáceis de lidar’, e mais um prêmio pro meu sexto sentido.