segunda-feira, 27 de junho de 2016

A vida depois dos 20


“Depois que faz 15 anos passa voando.” ”Depois dos 18 a vida não muda. Só piora.” Duas frases clichês que todo adulto já falou alguma vez na vida. Como adulto eu quis dizer pessoas que já alcançaram a maioridade civil, mas talvez as duas coisas não sejam mais sinônimas. De uns tempos pra cá, a adolescência não se define mais pela idade cronológica.
Depois dos 20, você percebe que nem metade dos planos que você fez quando tinha 15 se realizaram. E depois dos 25, você percebe que nem metade dos planos que você fez quando tinha 20 se realizaram. Você até tenta manter a calma, mas tem hora que o desespero bate e não tem nada que tire de você aquela angústia que, como dementadores (#harrypotterfeeelings) vai sugando a sua alegria de viver. Aí você decide se entupir de doce enquanto assiste a um filme e tudo volta a ficar bem (a forma de extravasar varia bastante. Alguns também choram e uns resolvem encher a cara. Outros fazem tudo isso junto). Até bater a próxima crise existencial.
Aos 15, queremos ter 20. Aos 20, nos sentimos com 15. Aos 25, nos sentimos vivendo tardiamente o lado negro dos 15. Você queria tanta coisa e, aos 25, ainda nem saiu da casa dos pais (e não existe previsão); não faz ideia se algum dia vai conseguir a independência financeira; não tem certeza se quer ter filhos; não viajou nem 5% do Brasil (e o plano era viajar o mundo); ainda ama cama elástica, docinho de festa e pirulito; não entende como as pessoas tomam decisões importantes na vida, muito menos como pessoas da sua idade estão e casando e tendo filhos; e tem vontade de responder ‘sei lá’ para toda pergunta que te fazem no âmbito profissional.
Caindo num abismo e se quebrando toda com um paraquedas fechado nas costas é como a gente se sente. Tomo a liberdade de falar por nós, já que agora eu sei que não é só comigo. Não sou a única a sentir coisas tão estranhas que sequer consigo descrever. Sentimos que reuníamos todas as condições favoráveis para ter uma vida adulta bem sucedida, mas, de repente, sem que a gente consiga explicar causa, motivo, razão ou circunstância (RIP professor Girafales), tudo desandou. Estudamos em boas escolas, fizemos aulas de inglês, passamos em vestibulares concorridos, fomos alunos exemplares na faculdade, mas parece que aqui fora as coisas são diferentes. Nunca nos prepararam verdadeiramente para sair da bolha de proteção e encarar o mundo real, e agora vivemos o choque cultural. Já viram aquela brincadeira ‘cabra-cega’? Assim estamos nós: de olhos vendados na vida, tentando encontrar o melhor caminho. Tem também a ‘pinhata mexicana’. Somos nós, de olhos vendados, tentando bater nos problemas.
Se, apesar de sermos exímios resolvedores de provas acadêmicas, não estamos preparados para as provas da vida, como conseguiremos sair dessa fase tão complicada e difícil (e não raramente dolorosa) que é a transição da adolescência estendida para a verdadeira idade adulta? Creio que aqui se aplica bem a teoria da seleção natural (como bons alunos que fomos, isso tiramos de letra): sobrevive quem se adapta melhor ao meio. Ainda me impressionam esses homens criadores de teorias atemporais.
E depois de tantas constatações um tanto quanto negativas, resta dizer, sinceramente, que um dia, num instante qualquer, perceberemos que já não sofremos pelos mesmos problemas e que, de alguma forma, que talvez saibamos racionalizar, talvez não, conseguimos encontrar o nosso próprio jeito de viver e de resolver as nossas questões. Acredito que a maturidade chega sem que a gente se dê conta, e que não é algo que possamos escolher. É claro que isso não retira a nossa responsabilidade de ação, mas acho que é necessário que a gente aprenda a ter calma, entendendo que em algum momento as coisas vão se resolver. Eu sei que é difícil que este momento não seja agora, mas, se eu sei alguma coisa sobre a vida, é que paciência é uma das lições que ela pretende nos ensinar. ‘O que não tem remédio, remediado está.’