Todo ano é a mesma coisa. Férias de
verão, carnaval, páscoa, dia das mães, festa junina, dia dos pais, dia das
crianças e Nossa Senhora Aparecida, finados, natal e ano novo. A gente sempre
tem uma programação mental para o ano que está começando. Percorremos os doze
meses em pensamento numa fração de segundo, e estabelecemos um monte de metas
que sabemos que provavelmente ficarão sem se cumprir. E a gente sabe bem o
porquê. Quase nunca nos esforçamos o suficiente pra que as coisas aconteçam. E,
se não nos esforçamos, é porque certos planos nem eram tão importantes assim.
Ao menos, não naquele momento. Pode reparar: quando queremos muito uma coisa,
ou realmente precisamos dela, a gente dá um jeito. Passa noite acordado, deixa
de comprar coisas supérfluas, abre mão de qualquer tempo livre. Se desdobra em
mil, se vira, mas dá conta. E aí, como nem sempre os planos dão certo, nos
atormentamos por não ter seguido a lista perfeita de metas de fim de ano velho
e início de ano novo, que se torna um pequeno manual de obrigações utópicas.
É engraçada essa mania de querer ter um
roteiro pra tudo, mesmo sabendo que quase nada vai acontecer daquele jeito. Tem
aí um quê de ansiedade, uma necessidade descontrolada de ter o mundo todo ao
alcance dos olhos. Na pressa dos dias, às vezes, a gente se perde, e não
percebe o quanto é bom uma surpresa de vez em quando. Uma mensagem quando você
não esperava, uma palavra de quem nunca imaginou, encontros inesperados, uma
saída casual, só pra tomar um sorvete num domingo à tarde, histórias que te
arrancam sorrisos revigorantes depois de um dia cheio de problemas e trabalho
pesado. A casualidade torna a vida mais leve e bonita e, ainda assim,
insistimos em calcular cada detalhe dos nossos próximos cinco ou dez anos.
Não sou tão radical. Sei que qualquer
extremismo é, no mínimo, pouco inteligente. Ninguém vive de luz nem coloca as
roupas na mala quando dá na telha e simplesmente vai escalar o Everest. Tem
hora em que é mesmo preciso organizar as
coisas e ter um plano A, B e C. Mas, entrar em colapso nervoso cada vez que
algo se desvia um pouco da rota é virar as costas pra outra oportunidade que
está pulando alegre na sua frente, suplicando pra ser notada.
Quantas vezes a gente tem a impressão
de que os dias passaram em branco, porque estivemos mais ocupados lamentando o
que não deu certo que vivendo o que a gente podia ter? Nem sempre é tão fácil
aceitar as condições que a vida nos impõe. A realidade é bem diferente das
incríveis expectativas que costumamos alimentar.
Se tem uma coisa que aprendi este ano
foi a deixar o tempo correr no ritmo que tem que ser e não apertar o passo nem
desejar voltar atrás. O que fiz está feito, e o que não fiz, ainda posso fazer
se for mesmo valer à pena. Pra tudo, tem solução, e é inútil tentar agradar a
todos e dar conta de tudo. Tem hora que a solução é simples: não solucionar. E
já que, em todo fim de ano, as pessoas têm o costume de fazer um balanço e
chegar a uma conclusão, a minha não poderia ser outra que não fosse entender
que o que a gente precisa, de verdade, é viver um dia de cada vez. Cada passo
que dou me faz avançar no caminho que escolhi percorrer, e sei que quanto mais
pressa eu tenho, mais me atraso, porque quanto mais corro, maior é o impacto
que os obstáculos causam sobre mim, me
obrigando a parar por um tempo maior pra consertar os estragos causados. Dizem
que, em 2012, o mundo vai chegar ao fim. Acho uma grande bobagem
sensacionalista, como a da passagem de 1999 pra 2000. Mas, se por acaso tudo
acabar antes da gente se encontrar por aí, quero te dizer que, pra mim, 2012 já
valeu muito à pena, porque eu aprendi a viver os dias sem pensar no ontem ou no
amanhã, e tive o prazer de conhecer um sentimento de realização por estar
completa. Esse sentimento que só visita o coração de quem está, por inteiro, no
presente.
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