domingo, 2 de dezembro de 2012

Todo fim de ano







Todo ano é a mesma coisa. Férias de verão, carnaval, páscoa, dia das mães, festa junina, dia dos pais, dia das crianças e Nossa Senhora Aparecida, finados, natal e ano novo. A gente sempre tem uma programação mental para o ano que está começando. Percorremos os doze meses em pensamento numa fração de segundo, e estabelecemos um monte de metas que sabemos que provavelmente ficarão sem se cumprir. E a gente sabe bem o porquê. Quase nunca nos esforçamos o suficiente pra que as coisas aconteçam. E, se não nos esforçamos, é porque certos planos nem eram tão importantes assim. Ao menos, não naquele momento. Pode reparar: quando queremos muito uma coisa, ou realmente precisamos dela, a gente dá um jeito. Passa noite acordado, deixa de comprar coisas supérfluas, abre mão de qualquer tempo livre. Se desdobra em mil, se vira, mas dá conta. E aí, como nem sempre os planos dão certo, nos atormentamos por não ter seguido a lista perfeita de metas de fim de ano velho e início de ano novo, que se torna um pequeno manual de obrigações utópicas.

É engraçada essa mania de querer ter um roteiro pra tudo, mesmo sabendo que quase nada vai acontecer daquele jeito. Tem aí um quê de ansiedade, uma necessidade descontrolada de ter o mundo todo ao alcance dos olhos. Na pressa dos dias, às vezes, a gente se perde, e não percebe o quanto é bom uma surpresa de vez em quando. Uma mensagem quando você não esperava, uma palavra de quem nunca imaginou, encontros inesperados, uma saída casual, só pra tomar um sorvete num domingo à tarde, histórias que te arrancam sorrisos revigorantes depois de um dia cheio de problemas e trabalho pesado. A casualidade torna a vida mais leve e bonita e, ainda assim, insistimos em calcular cada detalhe dos nossos próximos cinco ou dez anos.

Não sou tão radical. Sei que qualquer extremismo é, no mínimo, pouco inteligente. Ninguém vive de luz nem coloca as roupas na mala quando dá na telha e simplesmente vai escalar o Everest. Tem hora em que é mesmo  preciso organizar as coisas e ter um plano A, B e C. Mas, entrar em colapso nervoso cada vez que algo se desvia um pouco da rota é virar as costas pra outra oportunidade que está pulando alegre na sua frente, suplicando pra ser notada.

Quantas vezes a gente tem a impressão de que os dias passaram em branco, porque estivemos mais ocupados lamentando o que não deu certo que vivendo o que a gente podia ter? Nem sempre é tão fácil aceitar as condições que a vida nos impõe. A realidade é bem diferente das incríveis expectativas que costumamos alimentar.

Se tem uma coisa que aprendi este ano foi a deixar o tempo correr no ritmo que tem que ser e não apertar o passo nem desejar voltar atrás. O que fiz está feito, e o que não fiz, ainda posso fazer se for mesmo valer à pena. Pra tudo, tem solução, e é inútil tentar agradar a todos e dar conta de tudo. Tem hora que a solução é simples: não solucionar. E já que, em todo fim de ano, as pessoas têm o costume de fazer um balanço e chegar a uma conclusão, a minha não poderia ser outra que não fosse entender que o que a gente precisa, de verdade, é viver um dia de cada vez. Cada passo que dou me faz avançar no caminho que escolhi percorrer, e sei que quanto mais pressa eu tenho, mais me atraso, porque quanto mais corro, maior é o impacto que os obstáculos causam  sobre mim, me obrigando a parar por um tempo maior pra consertar os estragos causados. Dizem que, em 2012, o mundo vai chegar ao fim. Acho uma grande bobagem sensacionalista, como a da passagem de 1999 pra 2000. Mas, se por acaso tudo acabar antes da gente se encontrar por aí, quero te dizer que, pra mim, 2012 já valeu muito à pena, porque eu aprendi a viver os dias sem pensar no ontem ou no amanhã, e tive o prazer de conhecer um sentimento de realização por estar completa. Esse sentimento que só visita o coração de quem está, por inteiro, no presente.

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