sábado, 10 de dezembro de 2011

A dois passos da evolução


A vida se transformou numa competição de ‘mais`. Quem é mais, quem tem mais, quem pode mais. As pessoas banalizaram os sentimentos, as coisas de pequeno valor financeiro, os bons e inesquecíveis  momentos, e só se importam com o status, com a popularidade, com as vantagens que podem conseguir. Todo mundo quer aparecer, quer fazer graça pro outro, e acha que assim está feliz. Só que há um determinado momento em que essas coisas param de fazer sentido. E aí o sujeito pensa de que vale toda aquela parafernália de que ele se revestiu pra tentar ser aceito e aplaudido. E claro, não encontra resposta satisfatória. Mas aí, ele deixa pra lá e volta a se lambuzar com os prazeres que pode comprar.

É engraçado ver como o mundo muda rapidamente. Outro dia, eu me lembro, surgiam certas gírias, certos comportamentos, certas modinhas. Eram discriminados pelos mais conservadores e até mesmo pelos mais moderninhos. Hoje, em menos de dez anos, toda essa nova onda caiu nas graças do povo, e não há mais quem se assuste ao ver crianças se comportando como adultos, ou jovens se comportando como crianças, ou ainda ao ver expressões neologistas na boca dos próprios pais. Tornou-se comum, tornou-se normal, tornou-se parte do dia-a-dia.

Não que eu tenha algo contra mudanças, ao contrário, prezo muito por elas. As mudanças são o fôlego da vida. Mas, algumas coisas não se encaixam, simplesmente. Não dá pra ver e achar normal o que a sociedade tem aceitado como normal. Acho que de tanto tentar e fracassar, o povo acabou por inserir, pacificamente, no quebra-cabeças, a peça que não se encaixa.Toda tentativa, porém, nada mais era que uma censura com o olhar,que uma palavra pelas costas, que um protesto mudo.E assim, as novas figuras foram adentrando, já que ninguém fazia nada para impedir,e hoje, são parte do cenário.

Essa sociedade sem voz começa com pais que não sabem dizer não aos seus filhos; com políticos e autoridades que ao invés de valorizarem o crédito e a esperança depositados neles, fazem os cidadãos de palhaços; com pessoas que em vez de prezar pela estima, consideração e confiança das outras, riem de suas caras e na primeira oportunidade apunhalam-nas pelas costas; com uma mídia que usa seu enorme poder formador de opinião para estimular o consumo, a competição e a desvalorização do ser humano em suas diversidades.

Há um novo mundo, sem muitos valores e crenças, onde tudo pode e nada gera punição. É um novo mundo, onde caráter é uma palavra em desuso, esquecida em alguma página de um velho dicionário. Um mundo novo, em que palavra de homem ou de mulher é história pra boi dormir e em que confiança só em Deus ou em si mesmo. Uma nova realidade, onde há que se estar alerta todo o tempo. Um mundo novo, que era pra ter caminhado para o progresso, mas em que tudo saiu às avessas. Onde a evolução teve de recuar, porque já haviam ocupado seu espaço à frente.

Todos vão ignorando o que está acontecendo no outro país, no outro estado, na outra cidade, na casa do vizinho. Enquanto não é com ele, tudo bem, está tudo certo.Ninguém quer mesmo comprar a briga dos outros. Mas, uma hora o problema bate na sua porta também. E aí, não pense que você tem direito de reclamar que ninguém faz nada pelo outro. E muito menos se dê ao luxo de imaginar que ainda existem boas almas, e que uma, com certeza, vai te estender a mão. Cada um tem o que escolhe ter.



‘É pela paz que eu não quero seguir admitindo, pois paz sem voz não é paz, é medo. ’

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