quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Desencontros



Dessa vez era diferente.
O medo permeava seus pensamentos como nunca antes o havia feito. Seu coração estava apertado, como o de quem está prestes a encarar a cadeira elétrica. Em seu interior, o ar circulava rápida e freneticamente, denunciando a grande ansiedade que tomava conta de si.
Seus pensamentos ora iam, oram voltavam. Não encontravam solução ou resposta alguma.
Dessa vez era diferente. Sentia algo que nunca antes havia sentido. Era vítima de um sentimento sem nome, ainda impossível de classificação autônoma. Era uma mistura de diversos outros sentimentos.
Dividia-se entre pequena esperança e total desesperança. Não queria mais as pequenas coisas que antes lhe faziam falta. Queria ir muito além. Não queria sequer ser amada. Queria a si mesma. E nada mais.
Sentia seu tempo passar, suas possibilidades se esvaírem como pó. O tempo corria como que em uma ampulheta, e via seu futuro como uma miragem no deserto. Via a areia tomar a forma de seus pés, e caminhava até se deparar com suas próprias pegadas anteriores formando um eterno trajeto circular.
Tinha sede. Muita sede e não encontrava nem uma só gota d’água. Estava cansada, mas não havia nenhum camelo que lhe pudesse amparar.
O sol castigava seu corpo, e o calor do dia era amenizado apenas pelo frio da noite, que se fazia mais agradável e lhe dava forças para a manhã seguinte.
Precisava alcançar a saída, mas o labirinto em que havia se transformado o deserto parecia não ter fim. A areia cada vez mais espessa já desgastava as sandálias, que há tanto estavam consigo. O chapéu havia tomado a forma de sua cabeça, e já não conseguia viver sem ele. As vestes sujas, onde vez ou outra se agarravam alguns insetos, que só eram percebidos algum tempo depois.
O cantil estava seco. Não existia nenhum vestígio de que, um dia, ali houvera qualquer substância líquida.
Não sabia para onde ir. Não havia para quem se voltar. Descobriu que teria de achar, sozinha, o oásis. Percebeu que poderia gritar e não haveria ninguém que lhe pudesse ouvir. Viu que essa luta era só sua, e que sua única saída era encontrar a saída. E então, se encontrar.

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